Hoje é sexta-feira e minha mente começa a enganar-me outra vez, ela me prega peças o tempo todo e sinto que não estou segura em minha própria casa. Ouço passos no forro e como se alguém estivesse arranhando a parede, mas não sei se posso confiar em mim mesma, nem sei se posso contar isso à alguém, acho que ninguém acreditaria em mim, mas não posso evitar, fico em pânico quando a noite cai. Enquanto estou no banho, sinto que alguém me observa o tempo todo, esperando uma brecha de pegar-me desprevenida, sinto que estou em perigo e não posso fazer nada para impedir que algo venha atrás de mim.
Vivo sob a escuridão das cortinas pesadas da sala de estar, com medo de que alguém que venha bater à minha porta, venha para me fazer algum mal e fico atônita esperando um bote que nunca vem. Já não abro mais as janelas da casa e nunca saio para fora, faço compras pelo telefone e nunca deixo o entregador entrar, o jornal e as correspondências ficam na caixa de correio e estão se acumulando, não tenho forças para ir até lá buscá-las. Os vizinhos com certeza comentam, mas nunca vêm me perguntar o que está havendo, eles se assustam ao saber da minha paranoia e mesmo que viessem até mim, jamais os deixaria chegar perto de minha porta. Eu afasto a todos e não me sinto bem com isso, mas não consigo deixar de pensar que todos estão aqui para me ferir de alguma forma, minha vida está começando a se tornar um poço isolado, úmido e frio, pois não há nada que me faça esquecer o calafrio das noites sem dormir por causa dos pesadelos sem fim que parecem um aviso de que estou sendo vigiada e assombrada por tudo que há de ruim.
Nunca fui de acreditar em histórias de terror, mas depois de um sério atentado em uma pequena cidade no sul do estado me fez crer que coisas estranhas acontecem no mundo todo, e mesmo que pareçam consequências do efeito estufa, eu ainda acredito que seja forças sobrenaturais que abalam o planeta e fazem a natureza parecer furiosa com a raça humana, apenas para cobrir seus rastros de destruição sem motivo.
Gostaria de pensar que estou ficando louca, mas todas as vezes que olho no espelho vejo um vulto em meu rosto, assim começo a chorar inconsolada, já é o terceiro que quebro desde que as visões começaram, eu cubro tudo que possa refletir a minha imagem, nada mais me deixa em paz. Já tentei cometer suicídio, mas simplesmente, todas as lâminas que tento passar em meus pulsos se quebram, parece que algo não quer que eu vá, apenas para divertir-se com o meu desespero. Como se não bastasse, de noite vem a insônia, lutando o tempo todo com o meu coração acelerado, e as batidas não param, as janelas que estavam trancadas começam a ranger no abre e fecha assustador, e os passos continuam, o forro não para com os barulhos que me atormentam, penso por um momento que possam ser ratos, ratos gigantes que tentam abrigar-se no frio da noite, mas não consigo prosseguir com isso, o vento que faz os galhos baterem no telhado, sopra em meus ouvidos que não são ratos, que são outra coisa, uma força desconhecida, que está ali para me assustar, que está ali para levar-me, porque eu sou a escolhida, porque eles querem a mim.
